sábado, 4 de abril de 2009

Chão de giz_ análise da música

Chão de Giz

Composição: Zé Ramalho


Eu desço dessa solidão

Espalho coisas sobre

Um Chão de Giz

Há meros devaneios tolos

A me torturar

Fotografias recortadas

Em jornais de folhas

Amiúde!

Eu vou te jogar

Num pano de guardar confetes...

Disparo balas de canhãoÉ inútil, pois existe

Um grão-vizir

Há tantas violetas velhas

Sem um colibri

Queria usar quem sabe

Uma camisa de força

Ou de vênus

Mas não vou gozar de nós

Apenas um cigarro

Nem vou lhe beijar

Gastando assim o meu batom...

Agora pego

Um caminhão na lona

Vou a nocaute outra vez

Prá sempre fui acorrentada

No seu calcanhar

Meus vinte anos de "boy"

That's over, baby!

Freud explica...

Não vou me sujar

Fumando apenas um cigarro

Nem vou lhe beijar

Gastando assim o meu batom

Quanto ao pano dos confetes

Já passou meu carnaval

E isso explica porque o sexo

É assunto popular...

No mais estou indo embora!

No mais!...

quinta-feira, 26 de março de 2009

A quoi ça sert l'amour?

Pra que serve o amor?
A gente conta todos os dias
Incessantemente histórias
Sobre a que serve amar?
O amor não se explica
É uma coisa assim
Que vem não se sabe de onde
E te pega de uma vez
Eu escutei dizer
Que o amor faz sofrer
Que o amor faz chorar
Pra que se serve amar?
O amor serve pra que?
Para nos dar alegria com lágrimas nos olhos
É uma triste maravilha
No entanto, dizem sempre
Que o amor decepciona
Que há um dos dois
Que nunca está contente
Mesmo quando o perdemos
O amor que conhecemos
Nos deixa um gosto de mel
O amor é eterno
Tudo isso é muito lindo
Mas quando acaba
Não lhe resta nada
Além de uma enorme dor
Tudo agora
Que lhe parece "rasgável"
Amanhã, será para você
Uma lembrança de alegria
Em resumo, eu entendi
Que sem amor na vida
Sem essas alegrias, essas dores
Nós vivemos para nada
Mas sim, me escute
Cada vez mais eu acredito
E eu acreditarei pra sempre
Que é pra isso que serve o amor
Mas você, você é o último
Mas você, você é o primeiro
Antes de você não havia nada
Com você eu estou bem
Era você quem eu queria
Era de você que eu precisava
Eu te amarei pra sempre
E a isso que serve o amor.

(Edith Piaf_Aquoi ça sert l'amour)

Simbiose


Tocar com o pensamento sua mente como uma espécie de conexão que nos afasta do mundo, da vida, da efemeridade das coisas, liberando, com um suspiro longo e contagioso, todo o ser, para se encher de amor que também é contagioso como o bocejar e o suspiro. Nesse instante me prendo a pensar na onda de energia e calor que experimenta os meus dedos ao aproximar-se de sua pele. Energia jamais sentida, sensação que sua pele experimenta ao sentir o calor dos meus dedos. As palavras de nada servem, nada dizem, mas o olhar acusa cada sentimento, trai os argumentos e mostra como é possível ser vulnerável a um olhar que compreende por inteiro e que revela e desvela braços vazios com desejo de abraçar, como algas presas a tentáculos deixando levar-se em direção à luz para produzir harmonia. Simbiose. É desejo mútuo, é sentido raro que nasce num dia feliz ou triste, não importa! Surge como um desejo egoísta, desnivelado que aos poucos cede lugar à protocooperação voluntaria da convivência que nada exige, mas espera cada dia mais, tornando tênue a linha que divide os corpos, expondo-se à fragilidade. Agora, mais do que nunca, as palavras ganham força e parecem tropeçar a cada segundo ferindo o sentimento e atravessando a linha tênue que ameaça romper-se a qualquer momento, cortando pela raiz a orquídea.

By Jamile Cardoso

domingo, 15 de março de 2009

"Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos"

E foi então que apareceu a raposa:
- Bom dia, disse a raposa.
- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.
- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? perguntou o principezinho. Tu és bem bonita...
- Sou uma raposa, disse a raposa
- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.
- Ah! desculpa, disse o principezinho. Após uma reflexão, acrescentou:
- Que quer dizer "cativar"?
- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?
- Procuro os homens, disse o principezinho
- Que quer dizer "cativar"?
- Os homens, disse a raposa, têm fuzis e caçam. É bem incômodo! Criam galinhas também.
É a única coisa interessante que eles fazem
- Tu procuras galinhas?
- Não, disse o principezinho. Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços.
- Criar laços?Exatamente, disse a raposa. Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim o único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...Começo a compreender, disse o principezinho.Existe uma flor. . . eu creio que ela me cativou ...É possível, disse a raposa. Vê-se tanta coisa na Terra ...
- Oh! não foi na Terra, disse o principezinho. A raposa pareceu intrigada:
- Num outro planeta?
- Sim.
- Há caçadores nesse planeta?
- Não.
- Que bom ! E galinhas?
- Também não.
- Nada é perfeito, suspirou a raposa. Mas a raposa voltou à sua idéia.
- Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra.O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo?Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo ...A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:
- Por favor... cativa-me disse ela.
- Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos, Se tu queres um amigo cativa-me!Que é preciso fazer? perguntou o principezinho. É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto ...No dia seguinte o principezinho voltou.
- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada:descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração ... É preciso ritos.
- Que é um rito? perguntou o principezinho.
- É uma coisa muito esquecida também, disse a raposa. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, possuem um rito. Dançam na quinta-feira com as moças da aldeia. A quintafeira então é o dia maravilhoso!Vou passear até a vinha. Se os caçadores dançassem qualquer dia, os dias seriam todos iguais, e eu não teria férias !Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
- Ah ! Eu vou chorar.
- A culpa é tua, disse o principezinho, eu não te queria fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse ...
- Quis, disse a raposa.
- Mas tu vais chorar ! disse o principezinho.
- Vou, disse a raposa.- Então, não sais lucrando nada !
- Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo.Depois ela acrescentou:
- Vai rever as rosas. Tu compreenderás que a tua é a única no mundo.
Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te farei presente de um segredo. Foi o principezinho rever as rosas:
- Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes a ninguém. Sois como era a minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo.Ela é agora única no mundo. E as rosas estavam desapontadas.
- Sois belas, mas vazias, disse ele ainda. Não se pode morrer por vós. Minha rosa, sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que pus sob a redoma. Foi a ela que abriguei com o pára-vento. Foi dela que eu matei as larvas (exceto duas ou três por causa das borboletas). Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa. E voltou, então, à raposa:
- Adeus, disse ele...
- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.
- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.
- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa...
- Eu sou responsável pela minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.

(Antoine de Saint-Exupéry_O pequeno príncipe_cap. XXI)

quinta-feira, 12 de março de 2009

O que fazer quando é verão...


Corri em busca da água que matasse a minha sede e me fizesse sentir completo. Nessa trajetória encontrei muitos poços vazios, e minha sede aumentava até perder o sentido do trajeto, o sentido da minha sede... Minha língua se tornava insensível a outros sabores, perdendo a sensibilidade da pureza da água que minha boca ignorava. E o que dizer quando é verão? Minha voz se calou na tentativa de poupar a saliva, e quando tudo parecia perdido, eu vi um mar de águas azuis da cor da esperança antes de nascer, antes de fundir-se ao amarelo do sol. Aquele mar me dessedentaria a sede para o resto da vida, mas correr até ele poderia representar o meu desgaste que me mortificaria ainda mais. E o que dizer quando é verão e se morre de frio em pleno calor? A areia, outro obstáculo, pois para chegar até o mar tenho que sujar meus pés... E o que dizer quando é verão e minha pele transpira a água que minha boca jamais bebeu? Mas, o que dizer ainda quando existe um mar de águas pela frente. O medo de viver uma miragem é maior do que a vontade de morrer a sede. Decido-me por “viver”, a palavra mais feliz, ainda que “morrer” seja a mais bonita em sua sonoridade. Assim vou para mais uma corrida que acorda aos poucos os meus sentidos e me faz perceber quão grande é a minha sede. Jogo-me nesse mar como uma criança destemida e sinto minha pele absorver a vivacidade dessa água, mas ela experimenta também o ardor que parece infinito. Aqui estou, frente ao mar com os pés sujos de areia. Dos meus olhos cai uma lágrima, uma gota que minha boca jamais provou. A minha pele ganha mais uma marca, dessa vez, provocada pelo sol, da cor da lágrima que cai dos meus olhos. E o que fazer quando é verão e estou diante do mar morrendo de sede?
By Jamile Cardoso

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Táctica y estrategia


Mi táctica es
mirarte
aprender como sos
quererte como sos.
Mi táctica es
hablarte
y escucharte
construir con palabras
un puente indestructible.
Mi táctica es
quedarme en tu recuerdo
no sé cómo ni sé
con qué pretexto
pero quedarme en vos.
Mi táctica es
ser franco
y saber que sos franca
y que no nos vendamos
simulacros
para que entre los dos
no haya telón
ni abismos.
Mi estrategia es
en cambio
más profunda y más
simple.

Mi estrategia es
que un día cualquiera
no sé cómo ni sé
con qué pretexto
por fin me necesites.

(Mario Benedetti)