quinta-feira, 12 de março de 2009

O que fazer quando é verão...


Corri em busca da água que matasse a minha sede e me fizesse sentir completo. Nessa trajetória encontrei muitos poços vazios, e minha sede aumentava até perder o sentido do trajeto, o sentido da minha sede... Minha língua se tornava insensível a outros sabores, perdendo a sensibilidade da pureza da água que minha boca ignorava. E o que dizer quando é verão? Minha voz se calou na tentativa de poupar a saliva, e quando tudo parecia perdido, eu vi um mar de águas azuis da cor da esperança antes de nascer, antes de fundir-se ao amarelo do sol. Aquele mar me dessedentaria a sede para o resto da vida, mas correr até ele poderia representar o meu desgaste que me mortificaria ainda mais. E o que dizer quando é verão e se morre de frio em pleno calor? A areia, outro obstáculo, pois para chegar até o mar tenho que sujar meus pés... E o que dizer quando é verão e minha pele transpira a água que minha boca jamais bebeu? Mas, o que dizer ainda quando existe um mar de águas pela frente. O medo de viver uma miragem é maior do que a vontade de morrer a sede. Decido-me por “viver”, a palavra mais feliz, ainda que “morrer” seja a mais bonita em sua sonoridade. Assim vou para mais uma corrida que acorda aos poucos os meus sentidos e me faz perceber quão grande é a minha sede. Jogo-me nesse mar como uma criança destemida e sinto minha pele absorver a vivacidade dessa água, mas ela experimenta também o ardor que parece infinito. Aqui estou, frente ao mar com os pés sujos de areia. Dos meus olhos cai uma lágrima, uma gota que minha boca jamais provou. A minha pele ganha mais uma marca, dessa vez, provocada pelo sol, da cor da lágrima que cai dos meus olhos. E o que fazer quando é verão e estou diante do mar morrendo de sede?
By Jamile Cardoso

3 comentários:

  1. ... é ... o que fazer?

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  2. O medo de viver uma miragem é maior do que a vontade de morrer a sede.

    Seu texto é profundo, concentrado, forte. Queremos matar a sede com água que desidrata, ver essa simples miragem e errar os caminhos. Quem nunca se jogou nele e provou suas maravilhas, mas depois percebeu que a busca foi vã?Pois se pensa muito no salvar-se sem saber como nem aonde vai chegar.

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  3. Amor, seu texto é profundo...quando li ele sente muitas coisas diferentes...consegui sentir a sede de quem não sabe o que fazer. E fico com aquela frasse, O medo de viver uma miragem é maior do que a vontade de morrer a sede. Decido-me por “viver”, a palavra mais feliz, ainda que “morrer” seja a mais bonita em sua sonoridade. Assim vou para mais uma corrida que acorda aos poucos os meus sentidos e me faz perceber quão grande é a minha sede. MEUS PARABENS AMOR! TE AMO...

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